Arquivo para família

Coisa de família

Posted in Comportamento, Pessoal with tags , on 11 setembro, 2009 by Zailda Coirano

Algumas pessoas leem as postagens desse blog e levam tudo ao pé da letra. É claro que muito do que está escrito aqui é a pura verdade, nada além da verdade. Mas também é verdade que o blog (como já fica bem claro a partir do nome escolhido para ele) é destinado a postagens assim meio que na base do humor, esculacho e até um certo deboche, se me permite o caríssimo leitor. Como bem já diz o título do blog, ele é coisa para quem não tem o que fazer. Entenda-se por isso que não tem o que fazer quem o lê, já que a autora que aqui vos fala tem muitas ocupações, sim senhor.

No entanto não pode o leitor culpar-me por minhas postagens temperadas a deboche e escracho, já que o problema (se é que alguém vê nisso um problema) já vem de família, está no sangue, ou para ser mais moderna, é carga genética. Como minha avó sempre dizia, meu avô apesar da pouca instrução já tinha lá seus momentos de não ter o que fazer e os dedicava quase que integralmente à fina arte de caçar chifre em cabeça de cavalo, inventar moda e criar piadas infames para divertir-se à custa dos incautos.

Confesso aqui humildemente que herdei boa parte dessas características, que como aconteceu com meu avô, não me levaram a lugar nenhum, mas sem dúvida me renderam bons momentos de sumo prazer secreto ao fazer de bobos aqueles chatos de cada dia que toleramos porque não há outro jeito, mas que via de regra nos enchem o saco com suas perguntas indiscretas, frases feitas e filosofias baratas de párachoques de caminhão.

Pois meu avô perdoava tudo, só não engolia pobreza de espírito, o que aliás também não me desce pela goela. Com seu parco estudo, mal sabendo rabiscar seu nome numa garatuja que representava sua assinatura, tinha porém a mente fértil quando se tratava de fazer de bobos aqueles que julgava chatos, pobres de espírito ou puramente inconvenientes (mesmo que desconhecesse essa palavra).

Uma das coisas que minha avó mais gostava de contar sobre meu avô a respeito de seu senso de humor todo particular, daquele que só faz rir uma pessoa – que o inventou – deixando a outra com cara de bobo, eram os nomes de seus cachorros. Tinha sempre um, já que morava em um sítio e deles necessitava para vigiar suas parcas posses. O primeiro da lista, viveu muitos anos e até seus filhos lembram-se dele: Segredo.

Pois então apeava lá um cavaleiro já conhecido de meu avó que estava sentado à sombra, alisando cuidadosamente a palha para fazer o cigarrinho de depois do almoço, e era gentilmente recebido com um aceno de cabeça e um convite para sentar-se. Pedia um copo dágua e então reparava no cachorro, sentado ao lado de meu avô e deitando no visitante um olhar de puro desprezo e suspeita.

– Belo cachorro, Seu Benício. Como é o nome dele?

Meu avô, sossegado, os olhos baixos para que seu interlocutor não lhe adivinhasse o sorriso irônico, internamente saboreava o prazer que a resposta lhe provocava:

– Segredo…

E minutos depois lá ia o visitante, intrigado e pensando por muito tempo naquilo. Meu avô, mal o amigo virava a primeira curva da estrada, caía numa gostosa gargalhada.

Naturalmente que um dia Segredo partiu, para tristeza da família, mas como nada nem ninguém é insubstituível meu avô arranjou outro cachorro, que logo batizou de “Não digo”. Imaginem pois a cara dos visitantes que apeavam à sombra para conversar com meu avô e que por falta de assunto caíam no óbvio e perguntavam o nome de seu cachorro. Esses iam ainda mais intrigados para suas casas e minha avó conta que até brigas acaloradas aconteceram por causa do nome desaforado do cachorro.

Meu avô foi envelhecendo mas não perdeu o bom humor, e quando Não digo morreu tratou logo de substituí-lo. Os anos haviam se passado e muita coisa havia mudado, só não mudaram as pessoas. E meu avô, já de cabeça branca sentava à frente de sua casa num sítio à beira da estrada e eis que chega um visitante. Cumprimenta meu avô, senta-se e começa a conversar. Num dado momento repara no cãozinho ao lado dele e pergunta, para puxar assunto:

– Belo cachorro, seu Benicio. Como é o nome dele?

E meu avô, de parco estudo mas muito senso de humor, abrindo um sorriso misto de prazer e ironia, na sua fala mansa de velho do interior, alisando sua palha de fazer seu cigarrinho de depois do almoço:

– “Prigunta a ele”.

assinatura fundo preto peq

Dona-de-casa relapsa

Posted in Pessoal with tags , , , , , on 21 janeiro, 2009 by Zailda Coirano

Meu marido vive dizendo que sou uma dona-de-casa diferente porque não ligo para as coisas para as quais as outras donas-de-casa ligam. Peço pra ele explicar mais e ele começa a descrever, dizendo que eu vou lá fora buscar a roupa que está no varal, jogo tudo em cima da cama. Aí começa uma música no rádio que eu gosto muito, corro pra cozinha e vou lá ouvir, começo a dançar. E a roupa em cima da cama.

Já que estou na cozinha, assim que termina a música começo a lavar a louça que está há 24 horas azedando em cima da pia, bem no meio eu me lembro que está na hora de um programa que eu gosto muito, vou até a TV e troco o canal. Fico em pé na frente da TV vendo, rindo e comentando. E a roupa em cima da cama e a louça ensaboada em cima da pia.

No primeiro comercial eu começo a dobrar a roupa que está em cima da cama dividindo-a em vários montes, que portanto ficam espalhados por cima da cama toda. São 23 horas. E a louça em cima da pia.

Bem no meio do que estou fazendo, dou um pulo e digo: ‘amor, venha ver algo interessante na internet’ e mostro a ele qualquer coisa, depois fico 2 horas lendo meus emails.

À uma da manhã meu marido enxagua um copo pra tomar água e o coloca junto com a louça que já secou ensaboada na pia, empurra a roupa espalhada por cima da cama com os pés e se deita para dormir.

Acho que minha filha concorda com a descrição, ela vem passar o fim-de-semana aqui em casa, outro dia eu estava justamente postando aqui, já eram quase 2 da tarde quando ela me mandou essa indireta:

– Mãe, por quê você não faz um post sobre o almoço?

O dever de mãe me chamava, corri para a frente do fogão.

O passado em fotos

Posted in Pessoal with tags , , , , , on 28 setembro, 2008 by Zailda Coirano

Andei fuçando em fotos antigas e através delas reconstituindo uma parte de minha história e também lembrando o passado, por que não? O passado não volta mas nem por isso deixa de existir. E é muito engraçado olhar o passado porque vemos as gritantes diferenças, notamos o quanto crescemos (ou não), vemos as mudanças todas, para melhor ou para o pior.

Olhando essa foto que publico hoje lembro tudo o que se passava em minha cabeça naquela época, das esperanças, da confiança no futuro e da certeza de conseguir tudo o que queria. Bem, essa certeza já não tenho mais, ao longo dos anos descobri que temos que batalhar para conseguir o que queremos, e se algo vem de mão beijada, via de regra é presente de grego, ou seja: fria.

Esse garoto comigo na foto é o primo-irmão Kico, que participava das brincadeiras e molecagens, com uma ligeira tendência á maldade e com uma mente tão ou mais perversa que a minha. Aprontamos muito, conosco ninguém podia, nossa mente era um fervilhar de idéias para fazer tudo o que não podia. Cavávamos “pocinhos” no quintal todo, uma vez minha vó enfiou o pé em um deles e caiu, na hora em que foi recolher a roupa do varal e os cavadores aqui foram convocados a fechar todos os poços já criados, bem como os próximos que viriam. A ordem era lavar e guardar também as colheres e facas que usávamos na confecção de tão precoce obra arquitetônica, demonstrando já na tenra idade uma vocação que melhor ficaria em nossos governantes. Eram poços, pontes e rodovias todo dia, e para nos livrarmos da obrigação de lavar nossos instrumentos criadores depois de finda a brincadeira, achamos uma solução viável e criativa: enterrávamos as colheres ao fechar os poços.

Minha vó nunca descobriu porque sumiam todas as colheres e facas da casa, vez por outra culpava as empregadas, para ela seres nada dignos de confiança. E o mistério permaneceu por décadas, desvendo-o aqui e agora. Desculpe-me pela indiscrição, priminho. Mais cedo ou mais tarde “eles” ficariam sabendo, de qualquer forma.

Confessando o “crime” pueril já me sinto mais aliviada, um segredo de tal monta guardado durante tantas gerações pesa muito, e eu já não lhe suportava o peso na consciência. É claro que não pretendo convencer a ninguém de que esse tenha sido meu maior crime na vida, mas que preguiça de guardar o que usou pode ser considerada um desvio de caráter, lá isso pode, principalmente em nossos filhos e maridos. Em crianças como éramos na época, considero plenamente desculpável, eu e meu companheiro fiel de traquinagens bem sabemos que aprontamos “artes” poucas e boas, algumas de consequências nada agradáveis para nossas nádegas, que foram para a cama doloridas das palmadas e chineladas que nossa defunta e saudosa avó não poupava em circunstâncias nas quais ela achasse que eram necessárias.

Corretivos nos foram brindados em profusão durante a infância, sempre que aprontávamos algumas – que era descoberta – e na época nos lamentávamos de nossa pouca sorte e prometíamos a nós mesmos que faríamos um planejamento melhor da próxima vez. Hoje olho para a infância e percebo que esses corretivos doeram infinitamente menos que os que a própria vida nos aplicou depois, ao longo da vida, esses algumas vezes injustos em nossa opinião, dos quais não nos julgamos merecedores por não termos feito absolutamente nada.

Sofremos muitos percalços por essa vida afora, tivemos nossos castigos e dentro de nós nossa alma juvenil ainda reclama, dolorida:

– Mas por quê? Não enterramos colher nenhuma…

(Zailda Coirano)

É fruta!!!

Posted in Pessoal with tags , , , , , , , on 1 agosto, 2008 by Zailda Coirano

A conversa é daquelas que nascem assim do nada e vão logo descambando pro absurdo, resvalando no nonsense total. Estávamos vendo um filme e eu e a Michele começamos a gabar os atributos físicos do Baldwing que fazia o papel de vilão.

Desde que me entendo por gente sempre senti-me muito mais atraída pelo vilão que pelo mocinho. O filme em questão, que acho que era “Armadilha do destino” ou outra bobagem no gênero, tinha um dos 4 irmãos Baldwin no papel de vilão, e jura minha filha Michele que era logo o mais atraente e bonito dos 4.

Cá pra nós, Baldwin é Baldwin, e não faz a menor diferença qual deles era, só de falar “Baldwin” já se entende que era um deus grego de olhos claros, cara de safado e que faz suspirar moças e nem tão moças há pelo menos duas décadas na frente da telinha.

Para se vingar meu marido começou a gabar a Camila Pitanga, que ele disse que acha o máximo do supra-sumo. Claro que dei logo uma bronca, assim de brincadeirinha, só pra ele não achar que eu não estava ligando. E ele começou a procurar uma fruta para mim também.

– Zailda manga? (faço cara de brava) Zailda abacaxi? (mais brava ainda) Zailda jaca? (cara de possessa)

Nisso meu filho que estava na internet e não tinha emitido nem um som (como é comum quando a pessoa está conectada) deu sua deslocada e não solicitada sugestão:

– Que tal maracujá?

Risada geral, bronca de minha parte, quando meu marido se recuperou do ataque de riso, veio com essa:

– Que tal uva? Zailda uva está bem?

– Claro (cara de melindrosa) mas só se não for uva passa.

(zailda coirano)

Família que fala bobagem unida…

Posted in Bobeirol, Pessoal with tags , , , on 28 julho, 2008 by Zailda Coirano

Tenho certeza de que se alguém que me conhece na intimidade for me descrever incluirá sem sombra de dúvida a palavra “distraída”. Não que eu me isole do mundo, mas tenho um poder de concentração extraordinário, e quando estou envolvida em alguma atividade, todas as outras ficam excluídas do meu cérebro, incluindo aí aquelas que normalmente fazemos usando o piloto automático.

Acho que um dos setores mais atingidos pelo “esquecimento da concentração” é o da fala, então se estou concentrada e falam comigo, com certeza o que responderei é algo que não se escreve. Estou outro dia bem concentrada fazendo uma mágica com o almoço pra transformá-lo em nosso jantar e meu marido me pergunta o que estou cozinhando. Notem que o ato de cozinhar me exige uma baita concentração porque sou péssima na área da cozinha, então minha resposta foi que eu estava cozinhando um baseado para nós.

Meu marido – que é um gozador descarado – fez cara de quem estava entendendo tudo e depois, fingindo distração me perguntou quando o “bem-bolado” – e disse frisando bem a palavra – iria ficar pronto. Caí na real e dei muita gargalhada de mim mesma. Aliás é o que mais tenho feito ultimamente.

Pois ontem estávamos falando de Olimpíadas e meu filho me vem com essa:

– Eles comem rato na China porque lá a vaca é sagrada.

Eu comentei que não sabia disso, pra mim que na China o cachorro é um prato fino, e comem rato na Índia porque lá a vaca é sagrada. Ele não se deu por vencido e (concentrado que estava num jogo da internet) retrucou que “tem tanta gente na China que não sobra espaço para cultivar vaca”.

De fato, fica complicado cultivar vaca na China, ainda se fosse no Japão que em qualquer vasinho cultivam qualquer coisa, já pensou o cara ter lá na janela do banheiro um vasinho com um lindo pé de vaca? Uma vaqueira, digamos…

Imagino que por causa dessa extrema falta de espaço (ou excesso de chineses) eles devam ter lá seus pastos onde criam arroz. E lá vem minha filha dizendo que arroz tem plural. Está bem então. Que seja. Então lá na China, por causa do excesso de chineses e falta de espaço de cultivar vacas, vai ver então eles criam arrozes dentro de casa. Será que como animais de estimação? Sei não…

Mas seguindo a linha de raciocínio familiar, se vaca dá em árvore e os arrozes são criados em casa, nada demais então que eu crie também umas Canabis pra fazer aí com os arrozes da filha e as vacas transgênicas do filho um belo baseado para o jantar, certo?

Gente, fechem portas e janelas… a porteira do besteirol ficou escancarada…

(zailda coirano)